Policiais discutem Direitos Humanos

25/11/2015

Uma maior aproximação dos policiais militares com o Legislativo, através de suas representações sindicais, foi o conselho dado pela deputada estadual Marta Rocha (PSD-RJ), primeira mulher a chefiar a Polícia Civil do Rio de Janeiro,  durante o 1º Painel de Direitos Humanos e Garantia Policial – UPP Mangueira, realizado na manhã desta quarta-feira (25), no auditório do Senac, no Riachuelo.

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A deputada Marta Rocha, primeira mulher a chefiar a Polícia Civil no Rio|Foto: Tamiris Barcellos

A convite do major Márcio Rodrigues, coordenador da UPP Mangueira, Marta participou do debate ao lado do coronel Ubiratan Ângelo, coordenador de Segurança Humana do Viva Rio, e do juiz Alexandre Abrahão, famoso por seu combate ao crime organizado. O encontro foi mediado pela cientista social Silvia Ramos, ex-coordenadora social das UPPs. “Policiar demanda reflexão e capacidade crítica”, observou ela ao auditório lotado, com mais de 200 policiais.

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A cientista social Silvia Ramos, ex-coordenadora social das UPPs|Foto: Tamiris Barcellos

Os três convidados fizeram provocações à plateia, além de observações para contribuir para a capacidade crítica dos policiais. “Polícia não tem rotina. A cada dia temos a chance de fazer a diferença do modo mais imediato”, comentou Marta, que entrou para a Polícia Civil em 1983. Ela lembrou que sua primeira luta sindical foi conseguir um banheiro feminino em uma delegacia onde só trabalhavam homens.

A deputada falou de sua trajetória ao longo de diferentes lideranças estaduais, citando o caso de um governador do Rio em 1983, cujo nome não mencionou, que considerava a educação como uma vacina contra a violência; proibiu a polícia de subir os morros; dizia que os bandidos eram cidadãos, mas não conseguiu fazer seu sucessor. Voltou num segundo mandato e encontrou o sistema integral de ensino, que ele criou, fragilizado. “A política brasileira tem a característica de destruir o que foi construído. A segurança pública não era uma política de Estado, mas de Governo”, distinguiu Marta. Nessa linha de raciocínio, sugeriu que os policiais lutem por seus direitos. “A sociedade não consegue ser clara sobre a polícia que ela quer, mas o policial tem de dizer o que ele quer ser”, sustentou.

O coronel Ubiratan Ângelo descreveu a legislação da Polícia Militar como uma “colcha de retalhos, com direitos, como a carga horária e o lazer sem serem levados em consideração.” De forma semelhante à proposta da deputada, ele considera a melhor ferramenta disponível “conhecer o que está acontecendo”. O policial, com 32 anos de carreira na corporação, passou por uma formação de guerra contra os subversivos. “Era uma formação militar, não se discutia. Recebíamos a lição de ordem unida, éramos adestrados para cumprir ordens. Hoje, os policiais que entendem quais são os seus direitos vão saber lutar para preservá-los”, propôs.

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Ubiratan Âbgelo: legislação da PM é uma “colcha de retalhos”| Foto: Tamiris Barcellos

 

O juiz Alexandre Abrahão, titular do cartório da 3ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, começou sua exposição com a reflexão: “Quem apreende um fuzil e vende para traficantes não é policial, mas traidor”. E acrescentou: “Direitos Humanos não se fala, não se aprende, se absorve. Vocês não podem dar Direitos Humanos porque não recebem Direitos Humanos do Estado. A sociedade é hipócrita, o que não muda o fato de que vocês poderem fazer algo um pouco melhor”, ponderou.

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O juiz Alexandre Abrahão, titular do cartório da 3ª Vara Criminal do Rio | Foto: Tamiris Barcellos

Abrahão falou ainda do mito do herói, como o Capitão América e o Hulk, criado pela sociedade americana. “Vocês não são heróis e nem têm a obrigação de ser, ao combater com armas e coletes à prova de bala que nem sempre funcionam. Voltem vivos para suas famílias!”, conclamou. Recomendou a todos não fazer algo que possa envergonhar suas respectivas mães e lamentou: “Tudo se resolve com uma lei. Mas que eficácia têm essas leis? A polícia prende e o juiz solta. Chama-se populismo penal irracional, entorpecemos o povo com mentiras”, disparou. E fez a seguinte contabilidade: se for tirada uma arma da rua, serão salvas oito vidas.

O debate foi seguido por mesas de trabalho sobre variados temas e pelo segundo painel, sobre Direitos Humanos dos policiais: perspectivas de avanço – ampliando e reivindicando direitos, mediado por Pedro Strozenberg, secretário do Instituto de Estudos da Religião (Iser), com a participação do coronel Robson Rodrigues, chefe do Estado Maior da PM; do professor Ignácio Cano, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP-RJ).

 

(Texto: Celina Côrtes|Fotos: Tamiris Barcellos)

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