Pacificação é tema dos “Diálogos Viva Favela”

“Muitas vezes, o policial que aponta o fuzil já foi um garoto da comunidade. No fim, é pobre é exterminando pobre.” As palavras de William de Oliveira, nascido e criado na Rocinha, mostram que a dicotomia entre polícia e favela é mais complexa do que se apregoa. O líder comunitário participou da primeira edição dos “Diálogos Viva Favela”, realizada na última quinta-feira (16), que teve como tema o processo de pacificação na cidade do Rio de Janeiro.

IMG_0406

Debatedores da primeira edição dos “Diálogos Viva Favela”

O evento reuniu pesquisadores, músicos e especialistas em segurança pública, que discutiram a crise nas Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) e o profundo desapontamento de grande parte dos moradores com o projeto. “Na época da implantação, a mídia vendeu as UPPs como solução para a violência e os moradores acreditavam. Sempre desconfiei, mas queria estar errado”, desabafou o rapper Fiell, morador da favela Santa Marta, na Zona Sul.

Ubiratan Ângelo, coordenador de Segurança Humana do Viva Rio, rebateu as declarações do músico, afirmando que, nos primeiros anos de funcionamento, o programa de pacificação foi responsável pela diminuição dos homicídios nas favelas cariocas. O ex-comandante da Polícia Militar disse não acreditar que a população deseje o fim das UPPs, mas um projeto diferente do que está em vigor. “E para pensarmos em uma mudança, devemos nos perguntar quem é o policial que está na ponta, por que ele quis entrar na corporação e como está sendo treinado”, completou.

IMG_0285

Ubiratan Angelo: “Para pensarmos em uma mudança, devemos nos perguntar quem é esse policial que está na ponta”

O líder comunitário da Rocinha Davison Coutinho – que também assina a coluna “Comunidades em Pauta”, do Jornal do Brasil – admitiu que não gostaria de retornar ao tempo anterior à pacificação, embora compreenda o posicionamento contrário. “Fica uma imagem de projeto eleitoreiro, que pensava muito em ‘limpar a imagem da cidade’ para os grandes eventos do que fato levar qualidade de vida à favela. Quando o declínio das UPPs começou, os serviços começaram a ir embora, um a um”, explicou.

IMG_0426

“Fica uma imagem de projeto eleitoreiro, que pensava muito em ‘limpar a imagem da cidade’ para os grandes eventos do que fato levar qualidade de vida à favela”, avalia Davison Coutinho

Segundo Davison, pensar em segurança comunitária é, primeiramente, parar de enxergar a favela como problema. “Historicamente, foi o que permitiu os trabalhadores morarem perto do centro. Ela é, então, solução. Ali existem pessoas que ajudam a construir o Rio de Janeiro, a fazer a cidade rodar”, declarou.

Ao final do evento, o coordenador do Viva Favela, Carlos Costa, lembrou que o objetivo do evento foi propor o diálogo entre opiniões dissonantes, evitando a polarização de ideias. “É preciso encontrar maneiras de fazer polícia e favela caminharem juntos em prol da segurança. E a mudança tem que partir da gente. Se sociedade ‘não meter a mão na confusão’, a batalha será muito mais difícil.”

(Texto: Karla Menezes/Fotos: Paulo Barros e Tamiris Barcellos) 

Postado em Notícias na tag .