Militares debatem os 10 anos da Minustah no Haiti

“A presença do Brasil na missão da ONU é uma afirmação ao mundo de que nossa participação é relevante e que temos algo a dizer em relação aos destinos do planeta”. A declaração do Embaixador Paulo Cordeiro de Andrade Pinto, durante o seminário “A Minustah e o Brasil – Dez anos pela paz no Haiti”, no dia 30 de maio, na Escola de Guerra Naval, balizou todos os debates sobre o futuro da missão de paz no Haiti. Participaram do encontro, oficiais da marinha e exército, diplomatas, acadêmicos e representantes das Nações Unidas.

Para Andrade Pinto, que atuou como embaixador do Brasil no Haiti entre 2005 e 2008, “o Brasil tem desempenhado um papel importante no Haiti desde 2004, sendo o principal contribuinte com tropas e para preservação da segurança necessária para a estabilização da paz e reconstrução do país”, afirmou. A Minustah já operou com um contingente de 7 mil homens de várias nacionalidades. O efetivo foi reduzido para 6 mil, sendo 1,9 mil brasileiros.

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Para o embaixador, a presença da sociedade civil foi fundamental para a estabilização do Haiti

O embaixador ressaltou que a sociedade civil é uma das principais parceiras nesse processo. “O Viva Rio é uma das instituições que trabalha com nossos militares para que esse pequeno país, com 10 milhões de habitantes, não caia no ciclo de instabilidade e pobreza.

Em novembro de 2004, o Viva Rio foi convidado pelo departamento de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) da ONU a visitar o país caribenho. O diretor executivo da instituição, Rubem César Fernandes, explicou que o órgão acreditava que o Haiti vivia situação semelhante a das comunidades cariocas. “Levamos ações que costumávamos desenvolver nas comunidades do Rio de Janeiro. Criamos meios de aproximação com a comunidade local e facilitamos as mediações com o poder público”.

Ao chegar ao país caribenho, Rubem detectou quais eram os principais problemas sociais daquela população. O lixo, a educação, a violência, o desemprego e a falta de saneamento básico e água. Diante desse cenário de instabilidade, decidiu que o Viva Rio não sairia mais dali. “Montamos nossa sede em Bel Air, uma das áreas mais violentas da região, e a chamamos de Kay Nou (Nossa Casa), lá estamos até hoje”

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Rubem César foi convidado pela ONU para visitar o país caribenho, foi assim que nasceu o Viva Rio Haiti

Desde então, uma década depois, o Viva Rio promoveu a assinatura de seis acordos de paz entre grupos rivais e desenvolve programas nas áreas de segurança, educação, saúde, meio ambiente, cultura e esporte. O Embaixador Paulo Cordeiro relembra alguns trechos da sua relação do Haiti em que a figura do Viva Rio apareceu fortemente como um diferencial de ação.

“Recordo do projeto que a instituição promoveu sobre gestão de água em Bel Air (Dlo, Fann, Sante), que consistia em captar a água da chuva nos tetos das casas e demais instituições. O Viva Rio fazia aquilo que o Estado haitiano não conseguia fazer, que era prover o mínimo necessário para sua população”, contou.

O início e o futuro

O secretário-geral adjunto da ONU para Operações de Paz, Edmond Mullet, destacou o papel de liderança do Brasil entre os países latino-americanos. “70% da tropa de paz é dos países latino-americanos. É um exército do Brasil e da América Latina”.

Um dos objetivos da Missão de Paz das ONU  no Haiti é manter a estabilidade para as eleições de 2016. “Se as metas para 2016 serão cumpridas, eu não sei. Mas os objetivos vão estar bem avançados”.

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Edmond Mullet destacou o papel da liderança do Brasil  entre os países latino-americanos

A presença brasileira no Haiti chegou antes mesmo da Minustah, em 28 de fevereiro de 2004, quando um grupo de fuzileiros navais desembarcou em Porto Príncipe com o propósito de garantir a segurança das instalações diplomática brasileiras. Posteriormente, quando outros marinheiros e fuzileiros navais se juntaram ao contingente do exército e força aérea, o Brasil começou a dar os primeiros passos para aquela que seria a mais bem-sucedida missão de paz daquele país.

“Esses 10 anos de participação na Minustah tem representado um importante marco da atuação do Brasil, permitindo um significativo acumulo de experiências, desafios e novas oportunidade, como o atual envio de militares para as missões da ONU no Líbano”, disse o comandante da Marinha, almirante-de-esquadra Julio Soares de Moura Neto.

No painel da tarde foi abordada a visão e perspectivas da participação brasileira na missão de paz, com a participação do “Force Commander” da MONUSCO e ex-“Force Commander” da MINUSTAH, general-de-divisão Carlos Alberto dos Santos Cruz; ex-comandante da Força-Tarefa Marítima da UNIFIL, vice-almirante Wagner Lopes de Moraes Zamith; representante da Universidad Torcuato di Tella, Rut Diamint; e do Diretor do Instituto Pandiá Calógeras, Antonio Jorge Ramalho. Esta mesa foi moderada pelo coordenador de Pós-Graduação do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio, Kai Kenke, que também participou dos trabalhos da manhã.

 

(Texto: Flávia Ferreira/ Foto: Vitor Madeira)

 

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