Futuro da parceria Haiti Viva Rio será avaliado

14/12/2016

Um maior investimento em educação e meio ambiente nas áreas de formação profissional, parcerias com universidades em inovação, tecnologia, mídias sociais e educação ambiental, com plantio de um milhão de árvores, e o desenvolvimento de práticas de polícia de proximidade serão os próximos passos do Viva Rio no Haiti em 2017, conforme previsão das lideranças que representam a instituição no país caribenho.

Este será o tema de discussão entre Valmir Fachini, Mariam Yazdani, Pedro Braum e Antonio Gonzalez, que passam os próximos dois dias junto com outros gestores do Viva Rio na Colônia Pérolas Negras, em Paty do Alferes, no sul fluminense, onde as equipes haitianas Sub 20 e Sub 17 treinam e estudam.

Mariam, Pedro e Antonio fizeram uma exposição sobre a atuação do Viva Rio no Haiti nesta terça-feira (13), quando foi exibido um vídeo de Fachini, coordenador de Meio Ambiente e da Academia Pérolas Negras, que desembarca no Rio de Janeiro nesta quarta-feira (14). Entusiasmo e idealismo é o traço comum ao quatro.

Conforme explicou o diretor executivo do Viva Rio, Rubem César Fernandes, Valmir Fachini foi descoberto pela instituição em Petrópolis, quando o Viva Rio encontrou o consistente trabalho sobre biodigestores realizado por ele na cidade serrana. A técnica, implantada por Fachini no Haiti, tem o mérito de resolver simultaneamente problemas de saneamento básico e de fornecimento de energia. Já a chegada ao Viva Rio de Pedro Braum, coordenador de Segurança e Mobilização Comunitária, se deu em 2008, quando o Exército brasileiro avisou ter detido um traficante que dizia ser ligado à instituição.”Ao ver alguém conversando com bandidos, eles acharam que só podia ser traficante”, diverte-se Rubem.

Já a paquistanesa Mariam Yazdani chegou ao Haiti para trabalhar para a ONU com obras públicas. “Meu primeiro encontro com o pessoal do Viva Rio foi em 2010, quando fui introduzida à questão de conflitos urbanos, que me interessa muito”, disse.

O peruano Antonio Gonzalez, que já estava há 20 anos no Haiti, chegou ao Vivo Rio na mesma época de Mariam, após o terremoto de 2010. “Ele era da indústria de tecidos e se ofereceu para trabalhar conosco. Resolvia todo tipo de trabalho e ficou conhecido como no hay problemas”, lembra Rubem.

Gonzalez contribuiu para introduzir algo até então inexistente no país caribenho: coleta de lixo. Depois foi a vez da coleta de entulho, que removeu 60 mil m³ da Grande Bel Air, correspondentes a 10 mil caçambas carregadas.

Atualmente o Viva Rio funciona no Haiti em quatro bases: o Centro de Formação Kay Nou, em Bel Air; a Academia Pérolas Negras e o Projeto de Meio Ambiente, em Bon Repos; a Escola de Ecoturismo, em Côte des Arcadins, e o futuro Projeto Parque Reciclagem Ilha Verde, em Cité Soleil.

Polícia de Proximidade

O carioca Pedro Braum, mestre e doutor em Antropologia pelo Museu Nacional, é coordenador de Segurança no Haiti. “Entre vários projetos, o mais forte é o da polícia de proximidade, desenvolvida em parceria com a polícia nacional haitiana”, disse. Vale lembrar que até 1995 só existiam as Forças Armadas no país, substituídas pela Polícia Nacional com o fim da ditadura militar.

“O primeiro projeto começou em 2012, quando a polícia haitiana veio ao Rio conhecer as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). A parceria com o Viva Rio passou a policiar a Grande Bel Air, na capital Porto Príncipe, um conglomerado de 150 mil moradores. O projeto foi expandido para outras favelas da região na segunda etapa, a partir de 2015”, informou. Pedro observa que existe muita aceitação à polícia, ao mesmo tempo em que há um forte movimento associativo na população. “O problema é a falta de recursos. Como os moradores sentem responsabilidade pela própria segurança, se aparece um ladrão, a chance de eles o prenderem ou até matarem é maior do que a da polícia”, completa.

Além de ser menor que a do Brasil, a violência no Haiti não é ligada ao tráfico de drogas. “Lá ela ocorre mais por conta de conexões políticas, ciúmes, rivalidades, disputas pela cobrança de taxas informais e conflitos territoriais. Nas favelas há grupos armados rivais e um tenta dominar o outro”, acrescenta Braum.

Saúde e educação

O Viva Rio começou atuar na área de Saúde no Haiti em 2007, quando teve início o projeto Dlo (água) Fanm (mulher) e Santé (Saúde), em Bel Air, que construiu sistemas de captação de chuva e cisternas em 19 escolas e disponibilizou equipes médicas, que atuavam como as clínicas de família daqui, para cuidar dos alunos e de seus familiares . O projeto acabou em 2012.

O foco deixou de ser as escolas e passou a se direcionar ao atendimento ao cólera, que devastou o país em sucessivas epidemias. O local também passou a ser um centro  de formação para mil estudantes, com capoeira, dança e música. As equipes médicas atendiam os alunos, seus familiares e começavam também a receber moradores de Bel Air.

Na semana passada, Mariam, Pedro e Gonzalez acompanharam  representantes do governo haitiano que atuam em formação profissionais. “Visitamos o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem industrial), a Cidade da Música e o Projeto Jovem Aprendiz do Viva Rio”, informou Mariam.

A instituição também tem investido em parcerias para transformar a Academia Pérolas Negras em campus, onde lecionam sobretudo americanos que vêm fazer pesquisas no Haiti. São disponibilizados ainda cursos de créole para os estrangeiros radicados no país caribenho.

(Texto: Celina Côrtes| Fotos: Paulo Barros)

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