Capoeira e música ao vivo animam Serra Queimada

Capoeira, maculelê, jongo e samba de roda, seguidos pelo show ao vivo de João Mossoró, foram o auge do Encontro Capoeira e Ambiente, promovido pelo Viva Rio Socioambiental e pelo grupo Associação de Capoeira Navio Angola, e parceria com a Secretaria Municipal de Educação, que reuniu centenas de participantes na Escola Colônia Agrícola Knust, no último sábado (22), em Serra Queimada, Cachoeiras de Macacu.

Evento Cultural - Serra Queimada

Evento de capoeira em Serra Queimada, promovido pelo Viva Rio Socioambiental

Tendas direcionadas às crianças e à saúde cercaram a escola, onde desde o início da tarde já se podia ouvir a transmissão da Rádio Itinerante Guapiaçu, FM 97.3, inaugurada no evento, cujo repertório alternou as gravações de pen drives trazidos pelos participantes. O resultado mesclou Hip Hop com música brega e sertaneja. “São muito boas as iniciativas como estas na zona rural”, aplaudiu o mestre Wallace da Silva Motta, fundador do grupo de Capoeira Navio Angola, que começou em 1995, em Cachoeiras, e hoje já soma 15 núcleos – cada um com cerca de 30 alunos -, entre eles o de Bimendorf, na Suiça.

O encontro contou com grande participação das crianças, que podiam escolher o desenho e as cores pintados por Radma da Rocha Carvalho, que trabalha no Ponto se Liga na Praça, uma iniciativa do estado voltada ao público infantil. “As crianças me pedem para pintar, no rosto ou no braço, flores, borboletas e dragões”, contou Radma, que também divertia a garotada transformando bolões de encher numa variedade de bichos e enfeites. Agatha, de 6 anos, pediu duas flores em cada bochecha, porém cada pétala tinha de ser de uma cor diferente. A menina deu trabalho a Radma, mas saiu da tenda orgulhosa com sua ‘tatuagem’ improvisada.

Evento Cultural - Serra Queimada

A artista Radma Carvalho pinta o rosto da pequena Agatha, de 6 anos

Ali pertinho, na Tenda da Saúde, a enfermeira Rosane Tornio, que atua na região de Cachoeiras de Macacu, dava esclarecimentos aos visitantes. Os principais focos dos folhetos distribuídos eram as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), a dengue e os caramujos africanos, bastante comuns na zona rural. Também houve distribuição de preservativos. “Não há como combater esses caramujos, que chegam a causar perfurações no intestino.  A melhor maneira de evitar é limpar bem os quintais”, ensinou Rosana. Ao lado, ficava a tenda onde eram vendidas bebidas e comidinhas, como espetinhos de carne e frango, pipoca, refrigerante e cerveja.

Quem não escondia a satisfação com o movimento em torno da escola Knust era sua diretora, Mirian Lambardozi Belmont, nascida em Japuíba, no cargo desde 2011. “Gostei do lugar e me apeguei à comunidade. Já recebi convites para trabalhar em outras escolas, mas quero continuar aqui”, comentou, observando que um evento como aquele é importante para os adultos e crianças interagirem. Atualmente a Knust tem 20 alunos do ensino fundamental, de 5 a 12 anos, e acaba de receber outros 40, com idades de 18 a 50, no curso de Aceleração Escolar iniciado em fevereiro pelo Viva Rio. “Tem gente que não estudava há mais de 20 anos. Eles começam a trabalhar na roça às 5h, largam às 18h, mas chegam aqui felizes pela oportunidade de retomar os estudos”, conta Mirian.

O grupo mais animado do encontro era formado pelos alunos de capoeira da Associação Nova Angola, com  cerca de 70 participantes, de todas as idades. Na zona rural de Cachoeiras de Macacu o mestre mais popular é Nelson de Almeida Monteiro, conhecido por todos como Mandela. “Este é o primeiro evento do ano e está sendo muito bom. Falta apoio para trabalhar na área rural para os oito pontos que mantemos na região, que somam cerca de 150 alunos”, contabilizou mestre Mandela. E enquanto a roda de capoeira não entrava em ação, dez participantes do Grupo da Terceira Idade criado pelo professor de educação física Emerson Carvalho da Silva, do Colégio São José, começavam seu “Grito de Guerra”.

‘Guerra’ do carnaval

A guerra, no caso, eram as marchinhas de carnaval. Os participantes, com  idades a partir de 60 anos – 10% do grupo que soma 100 integrantes -, se concentraram em uma sala da escola Knust, decorada com serpentinas brilhantes, ao som de sucessos como ‘Mamãe eu quero’, ‘Se a canoa não virar’ e ‘Ei, você aí, me dá um dinheiro aí”. Uma das mais animadas era Tereza Geralda Correa, de 65 anos. “Quando entrei nesse grupo comecei a fazer ginástica. Eles são muito legais. Desde que meu marido morreu, há nove anos, não tinha vontade de fazer muita coisa mas, estimulada por eles, voltei a dançar carnaval”, comemorava, como os braços e dedos indicadores apontando para o céu no ritmo das músicas.

Quem parecia se sentir em casa era João Mossoró, nascido no Rio Grande do Norte e desde os 14 anos vivendo no Rio de Janeiro. Mais conhecido como Frank Sinatra do Nordeste, por causa de seus olhos azuis, ele canta, toca viola, acompanhado de ritmo e playback eletrônicos. Fazia uma figura imponente, com sua altura, traje branco e chapéu de couro de pau de arara.  A apresentação começou com xote, seguido de baião, com muito Luiz Gonzaga em canções como ‘Juazeiro’ e ‘Assum Preto’. “Para mim isso aqui é diversão”, descreveu Mossoró, que faz da música um hobby para preencher sua rotina de comerciante. Quem mais aproveitou foram os participantes do encontro, que se acabaram de dançar forró. Já as músicas transmitidas pela rádio itinerante tiveram a parceria da rádio comunitária Desperta FM e a participação de seu diretor, Trajano Marconis.

Depois das apresentações de capoeira, Fábio Morais, do Viva Rio, deu início ao que ele mesmo chamou de “Baile de Celular”. Fábio convocou todos os que tivessem músicas em seus celulares a plugá-los no som do encontro. O resultado foi o Baile Funk improvisado que encerrou o encontro, sem hora para terminar.

(Texto: Celina Côrtes/Fotos: Walter Mesquita) 

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